Quando o coração falha, o Senhor fala

Há algum tempo tenho me sentido rasa.

Essa é a melhor maneira que consigo descrever minha existência nos últimos meses: rasa. Estive vivendo de forma superficial, e isso me consome.

Dia após dia, eu me questionava se viver era isso. A cada novo amanhecer, me via mais angustiada, na mesma medida em que me sentia conformada.

O curioso é que nada significativamente diferente aconteceu. Foi apenas o automático da vida diária me engolindo.

Aos poucos, a oração se tornou esporádica, a leitura da Palavra algo recreativo, e o sentimento de vazio alimentava o abismo da minha alma.

O ciclo de cair e tentar levantar, a frustração de sempre decepcionar, tornaram o cair mais constante e duradouro.

É terrível que meus pensamentos tenham se tornado tão existenciais. A energia investida para rebatê-los é enorme.

A cada dia, eu era moldada pelo caos da minha mente, e não pelo caráter de Cristo, como deveria ser. Minhas palavras tornaram-se amargas, ácidas e irônicas. Meus pensamentos, tão perversos quanto — ou até mais. Não falamos tudo o que pensamos... Mas é justamente o que sai de nós, o que foi gerado em nosso íntimo, que nos torna impuros.

Um dia, voltando da academia, exaurida não só pelos exercícios, mas pela enxurrada de pensamentos,

me dirigi ao Senhor como quem fala com alguém que um dia foi muito querido e presente, mas de quem me afastei.

Disse que estava tão exausta e sufocando com o rumo da vida, frustrada com quem eu era.

Tal como aquele "bem que quero fazer, não consigo, e o mal que não quero, esse eu faço", eu já não conseguia mais continuar como estava.

Poderia permanecer daquele jeito, mas não deveria permitir que isso afetasse os outros — me referia ao serviço na comunidade.

Falei que, no meu íntimo, sentia que era a última vez que tentaria. Não como um xeque-mate ao Senhor,

mas como um limite antes de abrir mão daquilo ao qual eu não estava me dedicando como devia.

No lugar mais profundo da minha alma, eu queria dizer que era, sim, a última vez que tentaria — que eu abriria mão.

Mas me senti covarde e infantil demais para me comprometer com isso.

Mesmo sabendo que o Senhor conhece meu íntimo, decidi dizer que seria a última tentativa antes de externar minha angústia e pedir ajuda para me reerguer.

Então, retomei minha leitura bíblica. Segui lendo o Novo Testamento. Dez dias se passaram. Continuei com todas essas angústias, mas comecei a sentir, de tempos em tempos, a expectativa e a esperança me alcançando.

Vez ou outra, quando o caos me encontrava, vinha à mente que o Evangelho era para os quebrados — como eu.

A semana de provas chegou. Eu estava atolada de coisas para fazer, então, ainda que em crise, não dediquei muita atenção a nada além das obrigações.

Ontem, no culto à noite, seria apenas mais um culto, em meio ao mar de eventos aos quais eu estava indo por ir. Sabe quando você serve ou faz apenas porque tem que ser feito?

Peguei meu caderno e segui para anotar o sermão, como de costume. Então, passei por uma experiência muito singular. Eu estava emocionalmente tranquila, não havia sido tocada pelo louvor como ocasionalmente acontece. Eu estava apenas... normal.

O pastor proferiu a primeira frase do sermão e, naquele momento, entendi: não seria apenas mais um culto.

"Você já pensou em desistir?"

Minha vontade é transcrever o culto inteiro, tentar transmitir detalhadamente o que aconteceu, para que, quando os dias sombrios voltarem — porque sei que voltarão — eu me recorde: o Senhor responde aos Seus.

Talvez eu de fato faça isso, ou ao menos coloque o link do sermão — obrigada, tecnologia! Mas vou seguir antes que a memória perca o frescor.

Estamos estudando, de forma sequencial e expositiva, o livro de Atos dos Apóstolos. A porção da vez foi Atos 18:9–17.

"Não tenha medo, não pare de falar. Eu estou contigo."

O Senhor disse isso a Paulo, mais de dois mil anos atrás. E ontem, falou comigo também. A perenidade do Senhor é tão tranquilizadora.

Senti como se o Senhor estivesse me chamando para voltar, para não abandonar o arado. Me senti ouvida, vista e amada.

Obrigada, Pai. Porque quando o coração falha, o Senhor fala.


Link do sermão:

 https://www.youtube.com/live/N6FOcMgK6XY?si=ypYpqOgrxzcqh16Z


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